1997-2011-2016-2023

 De 2016 para cá aconteceram muitas coisas. Em 2016 tive meu último trabalho publicado com o livro Drops de Menta. Um copilado de crônicas antes escritas no blog Carpinteiros do Universo e outras inéditas. De lá para cá tantas cosias aconteceram que foram me afastando da arte da escrita.

 Desde os sete anos queria ser escritora. Sempre me abriguei nos livros, querendo vivenciar as tramas, histórias, me apaixonando pelos personagens. Preferia a minha imaginação, usar a minha criatividade sem limites do que ter que lidar com a dura realidade. Mas desde os onze anos quando comecei de fato a escrever de forma autoral usando o meu olhar sob a realidade, sabia que está me impactava.  Sem conseguir compreender as desigualdades sociais as discriminações e os porquês dos mentirosos sempre se deram bem. Eu era apenas uma menina com uma imaginação ilimitada, sonhos quase utópicos e uma vontade visceral de mudar o mundo. Ela cresceu e foi sendo massacrada por seus próprios demônios e fantasmas de estimação. Monstros internos se misturando com os acontecimentos que atropelavam. Perdas, desamores, decepções, corações partidos, partir corações, recomeços e escombros. Um jogo de luzes e sombras muitas vezes perverso. A menina que queria mudar o mundo conheceu as trevas e seu olhar ficou nublado como nuvens de tempestade.

Desde 2016 ela vem lutando para manter o mínimo de sanidade mental misturada com alguns momentos de insanidade. A depressão fez morada ao mesmo tempo que era atingida por inúmeros momentos de euforia. A corda bamba de estar alegre e triste ao mesmo tempo.  Inúmeras tentativas de continuar sobrevivendo, neste processo passei a negar o que nasci para ser. Mas quando a gente nega a nossa existência a gente vai se perdendo da gente mesmo. Nestas esquinas, curvas tempestades fui me perdendo, mas sabia que deveria retornar ao que sempre fui. Essa mistura de poeta, utópica, sonhadora, vontade danada de mudar o mundo começando a partir de si mesma. Sabia que precisava falar sobre o que havia vivido, compartilhar meus momentos de confusão a fim de quem estiver vivenciando coisas parecidas se sinta menos só. Como diria Belchior, mestre da minha alma, sofri demais, chorei demais e morri tantas vezes. Mas agora decidi recomeçar, preciso da escrita para me libertar, para me aproximar de mim mesma a fim de que eu seja a versão que sempre quis ser e não a que me moldaram.

Foi quando compreendi os meus monstros e minhas culpas de estimação foi que entendi que eles vão existir, mas não sou mais refém. Pode transformar isso em poesia, crônica e verso. Depois de 2016 em 2022 decidi dedicar para uma amiga o meu livro Drops de Menta. Ela acabou mostrando para vários colegas e amigos, para minha surpresa as pessoas se identificaram e despertaram em mim a gana e vontade de realizar o que realmente vim para terra como propósito. Sou predestinada a contar a minha história, contar histórias e quem sabe fazer história. Quero contar da minha estrada e do que me trouxe aqui para recomeçar. Tenho mais cicatrizes do que em 2016. Tenho mais medo do que em 2016. Tenho mais mágoas, mas também tenho mais esperança. Hoje quero lutar pela minha vida por mais que ela seja dura, de viés, nos vire do avesso e arranque toda hora nossas certezas. Talvez essa bagunça tipo uma dança das cadeiras faz que a vida seja mágica, insana, mas que não nos falte amor e bom humor. 

De 2016 para cá aprendi a amar sem posse. De 2016 para cá vivo um grande amor baseado em liberdade, democracia e individualidade. Sou mãe de 6 gatos e de tantos outros animais deste mundo afora. Invisto em autoconhecimento como principal ferramenta para sobrevivência. Hoje imponho as minhas ideias a respeito do mundo do que vejo, percebo e quero modificar. Não me calo frente as injustiças, prefiro dar minha opinião do que ficar encima do muro. De 2016 para cá me sinto mais fragmentada, mas pronta para colar os caquinhos sempre que for necessário.  Em 2023 prometo crônicas que misturam a menina de sete anos que queria ser escritora, a adolescente de 11 anos que usava a escrita para suportar a realidade e agora a adulta que ainda quer ser apenas uma carpinteira do universo que ainda quer consertar o que parece não ter conserto,


Vamos juntos?

Crônica: Conselhos

Resolvi fazer uma lista das coisas que gostaria de dizer a mim mesmo. Se pudesse escolher cinco conselhos para levar uma vida mais leve e plena gostaria de poder escutá-los.

Seja paciente com seus ciclos. Viver é como andar em uma montanha russa  as vezes estamos por cima e as vezes por baixo. Muitas vezes a vida nos vira do avesso, inverte nossas certezas e somos convidados a nos reinventar. Ser tolerante com nossos defeitos, nossos momentos de confusão e as nossas crises a fim de respeitarmos o nosso próprio tempo. Ser paciente com a gente mesmo implica em aceitar que todas as fases são necessárias para poder florescer.

Aprender a ser resiliente.  Por mais tempestades que possamos passar é preciso aprender a dançar na chuva.  Ter flexibilidade para poder para se adaptar ao que a realidade nos provoca. Conseguir criar novos coloridos a fim de poder continuar existindo.  A vida irá nos provocar o tempo todo testando os nossos limites e nos levando muitas vezes ao extremo. Mas, aprender a não fazer tempestades em tampinhas de refrigerante e sim surfar sobre os problemas. Ter resiliência deveria ser o item básico de sobrevivência a fim de tornamos mais flexíveis.

Desenvolver o nosso amor próprio. Ele é o combustível que nos fará construir a capacidade da empatia. Aprender a cuidar do nosso corpo e da nossa mente é investir em autoconhecimento. Aprender o que gostamos, o que nos faz sentir plenos e também aquilo que não apreciamos nos leva a uma  maior compressão do que somos. Amar a nós mesmos faz que aprendamos a gostar da nossa própria companhia e a nos sentir confortáveis com a gente mesmo. O que faz que nos tornemos seres mais integrados e menos suscetíveis a depositar todas nossas expectativas nas outras pessoas. Quando estamos munidos por amor próprio podemos complementar o outro e não completar
.
Seja autêntico. Aprenda a ser a melhor versão de si mesmo. Não se contente em ser como alguém, mas sim investir em ser alguém único.  Sem receio de ser diferente ou criar novas tendências. Explore todos os seus lados a fim  de cada a dia você possa evoluir. Tenha consciência que você é único e repleto de uma infinidade de possibilidades. Invista  seus talentos sem medo de agradar ou fracassar. Ter autenticidade é saber que cada  um é um universo esperando para ser explorado.

O último conselho é ter criatividade.  Ela é a ferramenta poderosa para que se possa existir de uma maneira mais plena e equilibrada.  Para ser criativo é preciso aceitar que a única certeza da vida é a mudança. Tudo muda o tempo todo e é preciso aprender a criar novos caminhos, traçar novas metas e planejar novas soluções.  Reinventar é preciso para poder estar sempre se adaptando ao que a vida vai nos surpreendendo. A vida é saber conviver com as escolhas e suas consequências, mas principalmente aprender a ter criatividade para lidar com que irá surgindo.

Essa é a minha lista de cinco conselhos que eu daria a mim mesma. Com eles seria possível levar uma existência mais crocante e colorida. Talvez o segredo da vida seja ter mais paciência, aprender a ser resiliente,  investir em amor próprio, desenvolver a autenticidade e abusar da criatividade

Crônica: As fugas de Amélie Poulain





Para quem conhece sabe que eu tenho três gatinhos Pandora, Charles Chaplin e Amélie Poulain. Esta última já nos deu vários sustos. Até entender que na realidade ela gosta mesmo é de se esconder.

A primeira vez que ela sumiu foi quando fui visitar a minha avó. A Amélie tinha por volta de seis meses e na época ainda dava para levar ela para passear na caixinha. De repente no meio da visita, ela sumiu. Havia inúmeros lugares pelas quais ela poderia ter se escondido, mas aparentemente nenhum deles era o esconderijo.  Foram horas de busca, até que simplesmente havíamos nos convencido que ela havia fugido.  Foi quando ao tardar da noite, minha avô junto com a sua cuidadora começaram a escutar miados que vinham de dentro da poltrona. O mistério é que a poltrona tem um fundo falso onde um gato filhote pode se aconchegar tranquilamente.

A segunda vez que a Amélie sumiu foi em uma visita na casa dos meus sogros.  Nesta época tanto o Chaplin quanto a Amélie eram filhotes e a gente os levava para passear. Tudo isso dentro da casinha e deixando um espaço para eles circularem de forma tranquila porém segura.  O ambiente que estávamos era uma casa de dois pisos e de repente a gente se deu conta que a Amélie estava fora da nossa vista, foi uma hora de pleno pavor. Rondas na vizinhança, vasculhar toda casa, procurar por todos esconderijos possíveis e nada.  Foi quando a minha sogra notou o closet dessatumada e lá estava ela dentro de uma gaveta como se nada tivesse acontecido.

A terceira vez foi no prédio antigo onde eu e meu namorado morávamos. O apartamento era pequeno e se a gente se descuidasse os gatos tinham chance de sair sem que a gente possa perceber. Foi numa dessas  que a Amélie passou uma tarde inteira na cobertura do prédio. Demos muita sorte dela não ter ficado circulando o que com certeza teria acarretado na sua fuga.

A quarta vez que a Amélie sumiu foi agora recentemente.  Passei o dia fora de casa e quando retornei não a encontrava em lugar algum.  Nem eu e nem o meu namorado nos lembrávamos de quando havia sido a última vez que havíamos a visto. Foram voltas na quadra, a averiguação no prédio,  revirar todo apartamento e nenhum sinal dela.  Já tarde da noite nos demos por vencidos e resolvemos que na parte da manhã iriamos reiniciar as buscas. De  repente fui dormir e comecei a escutar sons de garrinhas vindo do armário. Todo este tempo ela estava escondida dentro do armário.

Entre tantos sustos e fugas, um amor incondicional  pela nossa gatinha cinza de olhos esverdeados. Cada gato tem sua história, sua personalidade e seu jeito único de ser. Eles podem até nos dar sustos, mas vale  a pena.