Lonjuras






Quantas pessoas próximas se tornam estranhas? Quantas pessoas importantes mudam ao longo da estrada? Quantos amigos a gente pode perder ao longo do caminho? Quantas pessoas erradas a gente esbarra até encontrar a certa? Quantas portas a gente abre com a chave errada? Quantas escolhas erradas a gente toma até saber que era a certa/ Por onde você andou até me encontrar? Eu? Estive por aí colecionando uma porção de coisas, se me perguntarem do que sofro, irei responder de forma calma e pontual, sofro de distâncias, nostalgias e uma saudade de tudo que ainda não vivi.

Quantos passos a gente tem que dar até encontrar a direção certa? Quanto as pessoas que a gente mais confiou podem mudar em um piscar de olhos? Quantas chances a gente deve dar para algo que já terminou? Quantas vezes a gente diz que não irá cometer o mesmo erro até se dar conta que está cometendo o mesmo erro de novo? Quantos desamores a gente deve colecionar até esbarrar no amor verdadeiro? Quantos sapos a gente precisa beijar até encontrar o príncipe? Enquanto andamos pelo mundo de mãos dadas, fico me perguntando quantas vidas vão vivendo estranhamente. Quantas vidas desperdiçadas com prazeres imediatos, egos inflados, almas anoréxicas e começa a me dar uma fome de humanidade, de verdade e principalmente de originalidade. Mas um dia cada um encontrará o seu caminho, um dia a gente tropeça nas verdades, esbarra com o óbvio e abraça o acaso com todas as nossas forças Um dia nem toda a astrologia, nem todos os santos, nem todas as simpatias serão capazes de serem tão fortes de abraçar e contemplar o o que sempre esteve tão perto, mas estávamos cegos demais para enxergar o que sempre existiu. Afinal somos humanos demais, de uns tempos para cá, tem alguns dias que perdemos a nossa humanidade.

Engraçado pensar nas pessoas que mudaram pelo caminho, principalmente aquelas que faziam a nossa alma colorir, o coração vibrar e o mundo girar. Ainda acredito que por mais que elas mudem, não são capazes de mudar suas essências, simplesmente estão passando por uma fase ruim. Prefiro continuar acreditando que nada é perpetuo, imutável e sim depende da forma com a qual estamos observando. Afinal existem tantos tons de cinza quanto tons de azul no céu, mas prefiro acreditar que ali estão todas as cores misturadas. Tudo depende muito mais da gente aceitar que até mesmo o especial muda. Quantas vezes vamos contemplar o cinza como cinza ao invés de tentar encontrar o tom de azul? Quer saber, andei tanto tempo tentando me agarrar em verdades, presa em meias verdades, agarrada em mentiras sinceras, incapaz de perceber que na realidade os outros não tinham mudado, apenas me afastei e comecei a perceber que  eu que mudara. Já não era a paisagem, o cheiro das estações, nem mesmo as folhas que estavam pelo chão, eu  era a mudança. Por mais que me recusasse a aceitar, apenas era o começo do fim das nossas vidas. Era apenas uma forma de tentar enxergar algo de bom nos finais, mas ainda prefiro deixar uns três pontinhos. Afinal me recuso a ser o ponto final em qualquer coisa, quero ser uma vírgula para que se um dia esbarrar em algo, possa recomeçar.

Por de trás de tantas mudanças, talvez o mais duro foi aceitar que o especial por mais que se torne estrangeiro, com suas cores e nuances, ele guarda algo de familiar. Talvez seja este sentir-se em casa, mesmo estando em outra estação, que nos deixa assim um pouco desconcertados, mas é tudo uma questão de como e onde começar a observar.

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