Crônica: Medida do Amor Talvez Seja a Turbulência



Ouvi dizer que toda a relação causa uma turbulência. Ouvi dizer também que toda relação é ambivalente. Ou seja, o encontro com o outro, sempre nos deixará marcas, nos roubará algumas sanidades e talvez nos deixe um pouco mais insanos. Engraçado pensar que certas pessoas podem não estar mais, mas continuar habitar dentro da gente.

O motivo da partida pouco importa, se de fato eles foram embora por um tempo ou de forma definitiva. O que resta destas chegadas e partidas, onde vida da gente parece ser um eterno aeroporto com escalas, turbulências, mudanças de trajetos e com certeza muitas surpresas. Afinal o outro que está na nossa frente chega para nós como um quadro em branco, mas ele já traz una bagagem. Ele vem com suas histórias, suas conquistas, seus medos, seus desejos, sonhos e desejos. O outro já é um inteiro completo, ele por si só já tem a capacidade de transbordar em si mesmo. A gente que fica com essa mania quase boba de achar que somos metades de laranja, precisamos do outro para nos completar como se não soubéssemos que já somos inteiros por mais imperfeitos que possamos ser.

Sempre fui completa, diria até mesmo complexa demais. Vivia transbordando em mim mesma, trombando nos mesmos erros e culpando os outros pelas minhas besteiras. Afinal demorei um tempo a perceber que as escolhas erradas que fazia, nada tinham haver apenas com o encontro com o outro e para com o outro. A gente tem essa mania de achar que relacionamentos ruins ou repetição de pessoas "erradas", são culpa dos outros ou do acaso. Mas nós que por alguma razão acabamos por escolher de novo cometer os mesmos erros, temos que começar a levar as nossas culpas com mais seriedade a fim de provocarmos em nós uma maturidade. Antes da turbulência de lhe encontrar novamente na minha pista de voo, estava aqui transbordando em minhas mentiras inventadas e com certeza estava bem atrapalhada.

Achei que projetando nos outros, o que tinham feito comigo era uma maneira saudável de esquecer. Estava complicado de sublimar algumas ou todas as partes da história como se me destruindo em cada trombada, pudesse concertar. Mas aí veio você com a sua serenidade que gerou um choque com uma inquietude, desta mistura nasceu um novo sentimento. De alguma forma compreendi que o seu encontro, iria me fazer compreender que há algo em todo encontro que permanecerá. Somos feitos de lembranças, nostalgias e história, mas a forma pela qual iremos decidir contá-las ou recriá-las dependerá muito mais da gente do que propriamente dos outros. A forma como iremos guardar nossas memórias e sentimentos é o que realmente importa, o que o outro lembrará ou fará das memórias da gente, cabe somente a ele. Por muito tempo queria saber como os outros dos quais já me encontrei ao long da minha jornada iriam se lembrar, mas você me ensinou que isso pouco importa.

O bacana da vida é isso são os encontros e desencontros. O se deixa transbordar ou não a medida que vamos nos entregando, mas tendo o cuidado de ser coerente quanto aos nossos sentimentos e ações. Afinal todos nós já tivemos amores ao vento, onde amamos sem sermos amados na mesma medida. Isso você também me ensinou cada um tem uma forma de amar e uma medida, talvez o que dê errado nos relacionamentos são as expectativas que nós mesmos criamos no outro e não como de fato ele se apresenta.

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