Crônica: Talvez Devêssemos ser Um Pouco como Van Gogh



Ontem assisto a um documentário a respeito de um dos artistas que sempre gostei. Me lembro desde os meus quatro anos , meus pais sentados na
beira da minha cama, antes de dormir era sempre a hora das histórias. Mas como a maioria dos pais que leem contos de fadas, meus me abasteciam de todo o combustível de cultura que sabia de alguma forma que iria não só tecer a minha personalidade, mas fazer que sentisse a vida de outra forma.


Van Gogh viveu pouco, mas produziu muito. As suas obras foram maiores do que seus anos de vida, ele revolucionou arte e a forma como os nossos sentidos sentem a arte, mas de nada ficou sabendo em vida. Não teve consciência da sua grandiosidade, como tantos outros artistas, produziu muito, mas também sofreu muito pelo anonimato. Sem vender muitos quadros ao longo de sua vida, sofreu pela falta de sorte de poder ver seus quadros serem vendidos, mas sofreu principalmente por algo que poucas pessoas são capazes de ter ou de compreender. Ele queria tocar alma das pessoas, queria que as pessoas sentissem as suas obras de forma que pudesse tocar as suas almas. Ele queria despertar sentimentos nas pessoas com o que pintava pelos seus traços, pela sua intensidade nas cores e com certeza pelos sentimentos que expunha em cada tela.
Cada quadro era como um retrato, mas não da realidade em si. Ele não pintava o mundo que via, mas sim o seu mundo interno. Conseguia retratar em seus borrões de tinta, em suas texturas marcantes, em suas cores vividas absolutamente tudo o que estava contido dentro de si. O combustível da sua arte não consistia em ter apenas a ambição de ser famoso, de ser reconhecido no mundo das artes, mas sim queria tocar o coração e alma de quem visse os seus quadros. Talvez aí está o grande lance, ele não queria que seus quadros fossem vistos, queria que seus quadros fossem sentidos. Que as pessoas emergissem em seus quadros, podendo sentir todos os sentimentos ali retratos através de toda a intensidade e toda a beleza. Assim como ele, escrevo há muitos anos, poucos sabem disso. Muitos acham que comecei a escrever quando criei o Blog, outros nem sabem de nada. Sempre escrevi exatamente o que vivo, o que sinto afinal as palavras são um retrato do meu mundo interno.

O que percebo da realidade sempre passa por uma distorção do meu mundo interno. Afinal a forma como narro o cotidiano depende totalmente da forma como meu mundo interno percebe, assim ganha nuances de ironia, bom humor e os demais sentimentos. Com isso, não tenho a pretensão de ser famosa, pouco me importa se um dia serei importa. A minha importância é direcionada a tocar a alma das pessoas, provocar emoções aos que leiam e principalmente quero tocar as cores das almas de quem me lê. A medida que este processo mágico acontece, quero que isso me toque também. Quero está dança de almas, cores, sentimentos e experiências. Quero poder ser lida, mas quero principalmente ser sentida. Quero ser importante, mas um grau de importância em sentimentos.

A fama, o dinheiro e o status, podem ser que virão e pode ser que fique por aí. Deixar de escrever, nunca será uma opção para mim. Acredito que assim como Van Gogh nasceu para que a pintura salvasse a sua mente inquieta, acalmasse um pouco os seus demônios, lhe desse um pouco mais de serenidade, preciso das palavras e das escritas para alcançar a serenidade, dar cor e sentido ao meu interno e com certeza dar vasão aos meus sentimentos. Tudo isso se torna mais claro e fazedor de sentido, quando o leitor, se identifica, se emociona e se torna capaz de perceber a sua alma mais leve.

Por fim acho que todos nós devíamos ser um pouco como Van Gogh, ao invés de nos preocuparmos apenas com os louros da fama, deveríamos nos preocupar com a intensidade e a projeção de sentimentos impostas em nosso atos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário