Resenha do filme Truman
O filme Truman foi vencedor do
premio Goya, o que corresponde
ao Oscar espanhol. O premiado e
estimando Ricardo Darín ganhou
destaque, a meu ver mais do que merecido. Sou uma grande fã dos trabalhos dele
e acredito que sua atuação tem se superado a cada filme.
Truman é classificado como uma comédia dramática, mas ele vai muito,
além disso, ele remonta as nossas próprias experiências a respeito da nossa existência. Tendo como personagem principal Julian (
Ricardo Darín) que mora em Madri com seu fiel e confidente e sempre presente
cão da raça bullmastiff. A preocupação do dono gira em torno de estar sendo
acometido por um câncer terminal que em poucos meses ou até semanas pode levá-lo
a morte. Quem cuidará de Truman? De que forma ele entenderá a partida de seu
dono? O que a morte de seu cuidador implicará na sua qualidade de vida? Os
dissabores e a relação que temos em relação a morte, o que deixaremos e de que forma as nossas
escolhas repercutirão são temas centrais do filme.
Julian é um ator famoso, ainda está atuando e foi um galã da sua época. Quando a doença toma conta de si, ele decide interromper
o tratamento já que por mais que ele siga com os tratamentos recomendados, o
desfecho pode ser o mesmo, a morte. O
filme se passa durante os quatro dias entre Madri e algumas cenas em Amsterdã,
o desenrolar se dá quando ele recebe a
visita de Thomas ( Javier Câmera) que é casado com sua prima, ele reside no
Canadá. Há entre eles um humor sútil que
beira ao cômico em muitas situações para lá de dramáticas e super delicadas de
enfrentar neste momento de despedida já que a vida do amigo com câncer está permeada por sofrimento, angústias e decisões
mórbidas que precisam ser tomadas. Mas com quem ficará Truman? Esta é a interrogação que não quer calar e pela qual vale a pena assistir ao filme a fim
de se deixar tomar pelos sentimentos que transbordam de uma relação entre nós
humanos e nossos bichinhos de estimação.
Até para quem não é um grande fã de animais, vá ao cinema e se deixe surpreender
por está comédia dramática que é o ao mesmo tempo cômica e triste, ao mesmo
tempo leve e profunda e ao mesmo tempo
delicada e marcante.
O tema morte é um tema difícil de ser digerido do qual muitos de nós
finge não se preocupar ou até mesmo escolhe viver sem pensar no dia da partida.
Assistir um filme que lida de uma forma tão bela, sensível sem usar de grandes
cenas de drama e nem de exposição da doença, nos faz refletir de verdade sobre
a nossa existência, nossas escolhas, nossas vaidades, nossos rancores, nossos vícios
e até mesmo nossos pontos cegos.
Adendo do Filme- Maggie
O filme me remontou a uma história pessoal de uma amiga e fiel companheira, Maggie. Uma poodle de tamanho
médio, mas recheada por uma imensa
ternura contida em sua alma canina que me fez compreender a humanidade nos nossos
companheiros de estimação. Maggie estava sempre ao lado do meu vô paterno, uma dupla inseparável. Ele começava a se levantar da mesa após as
refeições, ela sabia de alguma forma que era o momento de tirar uma soneca, se
levantava ia atrás dele como uma sombra, se deitava embaixo da cama, ouso dizer
que até mesmo os roncos eram semelhantes. Na hora de rezar, ela parecia compreender
de alguma forma aquele momento, ficava no meio do circulo onde a família dava
as mãos para rezar e ali sentava de
cabeça baixa como se estivesse contemplando e respeitando aquele momento. Meu
avô nunca gritou com ela, nunca a bateu apenas a guiava com gestos precisos que
a fazia compreender que horas deveria ir para sua caminha, que horas o seu pote
de ração era colocado, qual era o seu lugar no sofá que era sempre no meio do meu
vô e da minha vó, qual distância ela podia percorrer depois do portão estar
aberto e outras coisas incríveis que eu presenciei.
Nunca me esqueço de que quando ela não gostava de uma visita,
normalmente ela acertava as visitas inoportunas e chatas fazendo xixi nos pés
da visita. Nesses momentos meu vô bradava com ela, mas de uma forma tão
delicada que parecia compreender o que os porquês da sua traquinagem. À medida
que meu vó foi adoecendo e ficando acometidas de uma demência terrível, as idas
ao hospital se tornaram constantes, nesses momentos por mais que explicássemos a
Maggie que seu dono estava bem ela perdia toda a sua fome, sua vitalidade e
ficava apática. A cada retorno do meu vô ela se tornava vivida, como se
ganhasse vida a cada retorno. Com o tempo
as melhoras minguaram e tentamos explicar de todas as formas que a partida
seria em breve. Quando ocorreu de nada adiantou, ela ficou por alguns meses parados
em frente ao portão esperando de alguma forma o retorno de seu amigo. Como seu desejo não se concretizou, logo ela
faleceu. Ou seja, este episódio me fez compreender os sentimentos que um animal
desempenha, a sua importância e o quanto eles sentem as mesmas coisas que nós humanos.
Maggie morreu de saudade, esperando que seu dono voltasse com a sua ternura,
suas palavras gentis e seus carinhos, quando percebeu a sua falta como algo
permanente e irrefutável, se deu por vencida. Acredito que hoje eles estejam em
algum lugar divino e extraordinário perto
do que considero a eternidade.
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