Quando nos desapaixonamos, nos libertamos



Quando nos desapaixonamos, nos libertamos




Tanto o ato de se apaixonar quanto se desapaixonar é terapêutico.  O ato de começar um relacionamento e também o de terminar  pode ser benéfico. Não quero dizer com isso que todo amor tem o seu fim, as vezes ele se transforma em algo melhor, outras vezes ele vai definhando até  restar apenas boas lembranças.

Nos apaixonamos e torcemos que dê certo. Passamos por fases boas e nem tão boas. E aí pode ser que o com o tempo falte tempero, as coisas vão ficando mornas e aos poucos parece que perdemos o interesse. Quando me desapaixonei por você , me apaixonei por mim mesma. Passei tanto tempo vivendo a sua vida, os seus horários, os seus sonhos, as suas idealizações que fui me deixando de lado.

Foram meses tentando encontrar uma forma de por um ponto final. Toda vez que o nosso amor morria, o ressuscitava, corria atrás, tentava colar as  partes, aparar as arestas e por muito tempo tentei me tornar aquilo que você achava que eu era. Só que viver pelas expectativas e desejos do outro é algo delicado, complicado que mais cedo ou mais tarde está propenso  a ter um desfecho.

A medida que comecei a sair de casa, passei a notar o mundo com os meus olhos e passar a explorá-lo através da minha percepção. Sem  as suas recriminações, seus preconceitos,  suas explicações  e seus discursos enlatados a respeito de quase tudo. Ao seu lado o mundo era monocromático,  um dia igual ao outro.  Achei por um tempo que após a sua partida, iria sentir falta daquela calmaria e perguntei se sentiria falta da rotina, mas estava apaixonada demais por me encontrar de novo, desfrutar de uma liberdade imune de frescuras. Foi quando o meu espirito agora mais inteiro e menos dependente de um amor que sugava ao invés de somar, pode esbarrar em outras almas e comecei a sentir vontade de desembarcar o coração em outro porto.

O nosso amor morreu por idealizações, expectativas frustradas, noites mornas, tédio. Permanecer tempo demais  em uma zona de conforto que trazia apenas a sensação de que ali não oferecia perigo, mas também não oferecia desafios.

Desde que o nosso amor morreu tenho sido dona do meu nariz. Desde que o nosso amor morreu cortei o meu cabelo, emagreci a  alma, assumi meus desalinhos e tenho dormido em paz. Minha enxaqueca me abandou,  a causa era você. Parte da minha insônia, do meu cansaço extremo e do meu humor deprimido. O amor morre por tentativas frustradas de tentar salvar algo que já partiu há tanto tempo.

Por falta de coragem, mantive você por perto, até que um dia resolvi mudar. Peguei a minha mala abarrotada de memórias, lhe desejei apenas o melhor, mas que fosse feliz longe da minha bagunça. Se o  meu jeito artista, um tanto boêmio, desafinado não combinava com a  sua mania de perfeição, sinto muito. A sua inveja e o seu hábito de competir até mesmo com quem está ao seu lado, só vai lhe trazer mais solidão e desapontamentos.


Quando o nosso amor morreu, comecei de fato a viver. Fiz um sepultamento, vivenciei um luto, mas  degustado de uma sensação de libertação absurda. Quando nos libertamos de amores dependentes que nos amarram e nos prendem em uma zona de conforto quase claustrofóbica, o ponto final é necessário,  quase vital.  Nada pode ser mais delicioso do que deixar morrer um amor que nem era amor, era  apenas abuso.

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