Crônica: Motivos pelos quais o amor pode morrer, tome cuidado





Motivos pelos quais o amor pode morrer, tome cuidado


Ela chega à casa repleta de energias. Tem vontade de sair para dançar, jantar ou simplesmente pegar um cineminha.  Até que se lembra de que está sozinha mais uma noite. Ele tem aula de segunda a sexta. Tinha ficado bem claro no começo de tudo, estavam em fases de vidas bem diferentes. Ela estava construindo sua carreira profissional como autônoma, podia ser dona de seu próprio tempo e tinha a maior parte das noites livres para curtir. Já ele trabalhava, estudava, sabia que tinha uma rotina puxada. Mas quando o encontro finalmente vingava à televisão, o celular, a janta e todo o resto ficavam no meio. Iam até dormir de conchinha, mas o fazer amor já era distante.


Compartilhavam os mesmos gostos em comum.  Passavam  finais de semana no cinema ou em frente a televisão. Tinham boas e honestas  conversas. Nem perceberam que o tempo foi se pondo entre eles e o amor foi se transformando em carinho, cuidado e amizade. Ela sentia falta dele como amante, queria as mãos dele percorrendo o seu corpo, queria fazer amor e queria  como era no começo. Ele completamente louco por ela. À medida que a rotina foi consumindo, passou a ser tão normal, se acomodarem entre fugas, conversas traçadas por mensagens. Poucos falavam. Tudo era motivo para fugir. Ele parecia tão acomodado sem parecer sentir falta alguma e por um tempo ela achou que estava tudo bem.

Ela começou a sair mais, ter mais amigas e uma coisa foi levando a outra. Começou a omitir a sua agenda, disse a ele que  um dia tinha que estudar, no outro estava cansada e no outro nem sabia mais. O amava, mas não suportava aquela distância presente que se estabeleceu entre eles. Ele pareceu não se importar, já que brigavam muito nesta época.  Em cada discussão, ele literalmente sumia nas horas mais inadequadas e ela ficava se questionando se esse era o tipo de pessoa que gostaria de ter ao seu lado. O amor ainda estava ali, tinham história, sentimentos, mas algumas coisas fizeram que o amor fosse morrendo aos poucos, se desintegrando até formar um filme com close para o fim.


Ela com a cara enterrada entre discos, filmes e livros. Ele sempre com o celular em mãos, há sempre um jogo novo seja no computador, no celular, tudo era mais interessante do que andar de mãos dadas com ela. Foi assim em um domingo ela encheu o copo, transbordou de raiva e tomou a decisão, ir embora. Passearam pela cidade, enquanto ela  queria andar de mãos dadas, conversar sobre o futuro, ele preferiu ficar com os olhos absortos na maldita tela de celular caçando sei lá o que pela cidade. E não o fim não se deu exatamente por isso, foram  inúmeras pequenas coisas que foram se transformando em monstros ao longo do tempo.

O meu amor foi morrendo assim e pode ser que ajude a entender os porquês do seu ter morrido ou estar morrendo

Jogar tudo embaixo do tapete, fingir estar tudo bem.

·           A gente brigava e no mesmo dia fazia as pazes. Não dava tempo para refletir a fim de ter consciência do que motivou a briga. O medo de perder um ao outro e ficar brigados era tão grande que o maior tempo que ficamos separados foi uma semana. Ao invés de conversar, retornar como se nada tivesse acontecido. Um café na cama, um bilhete pedindo desculpas e tudo voltava a ser como antes.  Em cada discussão é preciso conversar se não se coleciona uma porção de mágoas, mal entendidos que quando vierem a tona,  vai explodir  como bomba atômica.

Não falar sobre o que realmente incomoda

·          Ele foi se acostumando com meu ciúmes e essa mania que tenho de territorialidade  e cansou de tentar sobre isso. Ela foi se incomodando cada vez mais com o tempo dele gasto na frente das telinhas até mesmo quando viam filmes juntos no sofá, mas desistiu de falar sobre isso. Ele foi ficando incomodado com o jeito reservado e pouco extrovertido dela lidar com sua família, mas foi deixando assim.  Ela foi se incomodando com a falta de atitude no sexo, mas achou que fosse passar e deixou assim.   Ele   não conseguia se abrir, falar dos seus problemas, acabou guardando tudo dentro de si. Ou seja, cada um foi guardando  tudo para si, deixando de falar, deixando de prestar a atenção e fingindo não se importar. Temos que aprender a falar do que realmente incomoda se quisermos que o amor perpetue de forma sincera.

Deixar que certos comportamentos passem batido
·          À medida que um relacionamento vai se consolidando, vamos nos acostumando com certos comportamentos. Eles vão passando batido e acabamos por banalizar. Ironias, sarcasmos, machismos, inveja, ciúmes, competição posse, distância. À medida que balizamos certos comportamentos o amor se perde. Devemos ser intolerantes a certos comportamentos e não permitir que eles se tornem hábito.

Brigar sempre pelos mesmos motivos
·         Talvez esse seja uma das coisas mais complicadas já que por mais que as brigas pareçam novinhas em folha, sempre   são pelos mesmos motivos. Pode ser que altere algum fato, mas normalmente elas estão permeadas e carregadas pelas mesmas reclamações.  Ela sempre se incomodou com a passividade, falta de atitude, a distância, o tempo gastos na tecnologia e o quanto se sentia de lado frente a tudo que ele tinha para fazer. Ele sempre reclamou da impulsividade, da insegurança, da territorialidade, do jeito que ela se auto sabota e da falta de autoestima. Ao invés de brigar pelos mesmos motivos, falar de forma honesta em relação a eles e mudar.  Mudar deve ser comportamento. O que acontece muitas vezes é que o amor se torna tão enrugado pelos mesmos motivos, que termina também por esses motivos. Procurar ajuda para sanar os problemas é sabedoria.  Não ter vergonha de investir numa terapia de casal, num aconselhamento espiritual e tantos outros recursos. Não tenha medo de procurar ajuda e deixar que algo externo possa  ampliar as perspectivas.

       Deixar para resolver tudo no final
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 No final de tudo, a gente sentou e conversou. Quando a rotina já tinha se instalado. Quando o fazer amor virou só um item a ser cumprido na agenda. Quando já estavam tão cansados de discutir pelos mesmos motivos de sempre. O amor ali morreu naquela quinta-feira na mesa do bar. Ele espantando pela calmaria dela, ficou se perguntando onde estava o jeito impulsivo, a vontade que ela sempre teve de fazer tudo dar certo entre eles. Demorou mas aos poucos ele foi entendendo que ela cansou, estava exausta de tudo e não era por falta de amor, era por um grande cansaço físico, emocional que estava afetando as demais áreas da vida dela. Já não conseguia se decidir, mas propôs a ele que o tempo  seria  a melhor solução. Ele como sempre por mais que a amasse, por mais que fosse louco por ela e por mais que soubesse que a partida dela iria matar boa parte dos seus sentimentos e colorir o  seu coração de cinza, era incapaz de falar algo que não soasse agressivo.  E sim ele foi agressivo, intempestivo e a deixou com medo, de novo.  Ele foi percebendo ao logo das semanas que tinha perdido a menina da sua vida, mas tem orgulho e ego inflado para correr atrás.  Travou uma guerra de silencio por mais que receba notícias dela por e-mail de vez em quando. Ela está tentando virar  página, conhecer outros alguéns, tentando embarcar de cabeça no que pode lhe fazer feliz sozinha ou acompanhada.

O amor pode morrer por inúmeros motivos, listei alguns dos quais fizeram o meu amor morrer. Mas ainda acredito que é sempre amor mesmo que mude. Ele pode virar a esquina, tomar um ar em outros lugares. Mas se existe amor, nem o tempo, nem outras pessoas, nem outras escolhas podem mudar o destino. O amor morre e não por falta de amor. Uma sucessão de pequenos fracassos que se tornam grandes coisas para esquecer.




Leitura do Mês de Setembro: À Procura de Audrey, Sophie Kinsella

À Procura de Audrey- Sophie Kinsella

Amo Sophie Kinsella É uma das minhas escritoras prediletas e ainda não tinha lido nada da sua literatura no universo adolescente.  Mas como sempre foi uma leitura fantástica, daquelas que se devora em poucos dias e fica um gostinho de quero mais.

Audrey é uma menina de 14 anos com uma adolescência nada comum para quem não tenha sofrido bullying . Assim a a protagonista quem passa por estas experiência fica com traumas, cicatrizes, ou seja, ninguém saí imune. Mas com o tempo as coisas vão aos poucos se ajeitando, mas a história narra as consequências dolorosas de quem passa por este tipo de situação.

Além disso,ela fica reclusa em casa, acaba por abandonar a  escola por ter perdido muitas aulas e passa a evitar o mundo. Usa um óculos de sol até mesmo dentro de casa, só os retira quando está e, companhia de seu irmão de quatro anos. Um dos únicos motivos que a fazem sair de casa são as consultas com a Drs Sarah e aí vem a minha primeira ressalva de palmas para o livro. A forma fiél,  verdadeira e importante de que o processo de terapia traz para momentos de crise como os que Audrey passa.

A vida familiar passa a se agitar quando a mãe de Audrey que é viciada no jornal Daily Mail ,lê que  jogos de computador podem ser  nocivos além de tóxicos. Assim o futuro do jogador Frank, irmão de Audrey está ameaçado quando seu laptop é jogado do jardim. Mas  Linus o seu amigo passa a frequentar a casa já que o castigo é o irmão não pode jogar, mas pode assistir alguém jogando.   Esta visita inesperada começa a despertar curiosidade e desejo  em nossa protagonista.

Cada personagem construído por Sophie Kinsella ganha o coração do leitor.  A mãe que largou o emprego e seus sonhos para se dedicar a filha. O pai um tanto avoado , mas sensível e presente. O fofo irmão mais novo que tem um papel importante de se tornar pombo correio dos bilhetes trocados por Linus e Audrey. O irmão viciado em jogos, Frank. E claro o nosso importante Linus e a Dra. Sarah que tem papel terapêuticos na vida da personagem principal. Cada um deles tem este papel, assim como podemos sentir através das páginas a superação, os desafios que  Audrey mobiliza em cada um deles. Quando há um membro em crise na família, acaba  afetando todos os outros e se há amor envolvido, as crises aos poucos se diluem e se transforam em coragem e aprendizado.

O leitor fica esperando pelo desfecho da história de Linus e Audrey. Assim como o processo de recuperação dela. Me senti participando da família, da história como se estivesse espiando pela fechadura.

Sophie Kinsella trata questão sérias e de extrema importância- como a depressão, crises de pânico e ansiedade, bullying e as marcas deixadas- tudo de forma leve, doce, sensível e nem por isso deixa de ser real e eficiente.  Mesmo que não tenha passado por essas situações e para mim que já passou por altos e baixos como estes, fica muito fácil se identificar e se sentir participante da história. 

Super recomendo a leitura e o que mais gostei é que ela preserva os acontecimentos que levaram  protagonista a entrar em crise.  Já que acredito que muito mais do que relatar o sofrimento é poder trabalhar as suas consequências focando no que virá adiante e não se prender ao passado. 



Meus livros preferidos de Sophie Kinsella em ordem de adoração

Menina de Vinte
Fiquei com seu número
O Segredo de Emma Corrigan
Lembra de mim?
Samantha Sweet, executiva do lar
A Lua de Mel

Ps: Amo a série  Becky Bloom !!! 


 


Dica de Filme: Requisitos para se tornar uma pessoa NORMAL

Requisitos para se tornar uma pessoa NORMAL




   A dica de filme é o espanhol Requisitos para se tornar uma pessoa Normal.  Que bom que o Netflix nos traz surpresas que fazem entrar para a lista de filmes prediletos. 

   Se você torce o nariz para filmes estrangeiros e ainda mais se eles forem fofos. Espero romper estes preconceitos.  Aqui temos uma comédia romântica espanhola que é estrelada e dirigida por Leticia Dolera. Sua personagem Maria de Las Montânas Enríquez Conde, só este nome já poderia protagonizar uma novela mexicana. Mas ela é apenas uma garota de trinta que quer a todo custo " normalizar" a sua vida e cessar crises. Tenta fazer uma lista do que é  preciso para sua vida, trabalho, uma casa, um parceiro .uma vida social e ser feliz.  Não tem nenhum destes requisitos até o seu caminho esbarrar com  Borja em uma loja de eletrodomésticos. De um encontro inusitado ao acaso, uma amizade nasce e pode ser a solução para se tornar uma pessoa normal.

  Além da amizade entre uma magricela em crise e um gordinho ruivo, há  o irmão da protagonista que dá um pontapé em todos os preconceitos. O filme traz o que acontece na realidade, nos apaixonamos pela essência, a aparência deveria ser um complemento.

   O quanto temos que nos desapegar de tudo que nos amarra, nos tira o sono e nos impede de sermos plenos.  Perder a mania de tentar se enquadrar, caber em um padrão a fim de manter aparências. Para amar é preciso estar confortável com o outro até no escuro. Poder despir dos nossos próprios preconceitos a fim de que o outro nos reinvente, nos conserte, nos cuide e nos ampare nos momentos de tempestade.

Uma comédia romântica, sensível que pode nos levar as lágrimas como me levou. Uma ótima companhia para um momento de crise, uma tarde preguiçosa de domingo. Para ser visto sozinho ou acompanhado. Um filme deliciosamente irresistível.




Nosso amor de tantas rugas, enrugou

Nosso amor de tantas rugas, enrugou




  Vai dar saudade. Vou carregar a gente por todos os cantos. Vou ficar por um tempo presa no que construímos até ser capaz de destruir o nosso castelo de areia, por tanto  tempo achei  que era concreto.

  Saudade do convite para um café na espera por algo mais. Quem sabe nós dois dividindo a cama pequena no meio de uma semana qualquer.  Vou ficar a desmanchar os nós que não formaram laços. Vou ficar por um tempo dançando descalça sob os estilhaços de vidro das tuas palavras.  Vou tentar virar a página, apagar as reticências que por aqui pairam.

  Fiquei tanto tempo procurando algo concreto, mas não adianta só há areia e vento. Mergulhei novamente em nós, tentei desengavetar  sonhos, algum resto de esperança ou uma expectativa mesmo que vã. Encontrei mentiras sinceras.  No máximo tentativas de concordância em vão. caminhos opostos que teimavam em caminhar juntos. Uma vontade  de dar certo quando havia apenas ressentimentos. Por tanto tempo  me apeguei em um restinho de esperança.  Me sentia . Ao abarcar na nossa zona de conforto me sentia em casa.

    O que sei é que não deu errado.  Não demos errado. Por muito tempo fiquei com essa mania de achar que se um relacionamento acabou é porque não deu certo. Pelo contrário, os nossos momentos são como pequenos infinitos que ficarão para sempre nas paredes da minha eternidade.  As viagens, os gostos musicais, as brincadeiras internas, as conquistas e tudo o que fizemos, permanecerá como um legado para posteridade.  A gente daria errado se tentasse ficar consertando o que não dá para consertar. Se você continuasse a sumir nas horas mais inadequadas. Se me deixasse levar pelas suas desculpas esfarrapadas. Se deixasse você brincar com meu coração como jogo de tabuleiro. Se me permitisse levar adiante o que já teve um final, a gente daria errado. Por mais choro, ofensas trocadas, silêncios que gritaram ali havia um desfecho.Proferimos: se cuida, seja feliz, fique bem. Tentamos manter o mínimo de compostura frente ao momento de crise.

  O fim era inevitável, a dor será opcional. Por mais que saiba que saudade não se cura com cafeína e que nem um novo amor tomará o seu lugar tão rápido . Por saber que sentimentos não se curam do dia para noite, se transformam. Não foi por falta de amor que rompemos, foi por amor demais. Um amor que sufoca, aprisiona, oscila e fere. Este mesmo amor titânico e também tirânico, capaz de abraçar o mundo  nos  fez enxergar o quanto estávamos nos tornando tóxicos e nocivos.  Dói né? Vai dar saudade né? Vamos sentir falta da gente né? 

  Teremos que ter maturidade suficiente para guardar apenas o que restou de bom. Selecionar o que agregamos de novo, de colorido um ao outro. Você disse que agradece o crescimento profissional e o quanto te estimulei a pensar fora da sua zona de conforto.  Agradeço pela calmaria, por me fazer entender o poder organizador da rotina e o quanto ainda tenho que evoluir.  Vai dar saudade de acordar de conchinha, de conversar até pegar no sono, das mensagens de bom dia, das ligações fora de hora.  Vai dar saudade do beijo na testa, na espera para contemplar seu sorriso e do beijo que encaixava como de forma perfeita. Vou sentir falta do seu pé procurando o meu embaixo das cobertas. Do cheiro do seu shampoo no meu travesseiro. Da forma como vibrava com as minhas pequenas conquistas.  Vou sentir falta da nossa amizade, do cuidado incondicional e da forma como escutava com atenção as minhas bobagens. Vou deixar o tempo correr, torcendo que a distância não rompa as marcas  recheadas de pequenos infinitos que deixamos na  humanidade.

   Nosso amor de tantas rugas enrugou.  Nosso amor virou a esquina.  Mudou de estação.  Virou a página.  Já não somos  os mesmos. Os impactos e as marcas deixados são inegáveis e imutáveis. Somos a prova viva de que amores requentados também precisam de desfecho.  Vou embora antes que a cólera tome conta.  Vou embora  antes que o caos se instaure. Vou embora deixando o domingo nos cobrir de preguiça para voltar atrás.