Crônica: Compartilhe suas Paranoias




Compartilhe suas Paranoias 


Será que só eu que fico nostálgica nesta época do ano?  Apesar de estar tudo bem por aqui. Aprendi a trancos e barrancos que ninguém morre de coração partido, expectativas frustradas e algumas desilusões. Mas, dói. Não é preciso fazer escândalo e por mais que pareça clichê, o tempo cura quase tudo. Quem diria 2017 está quase virando a esquina e estou superando o insuperável. Você.

   De repente o facebook vem nos invadir com uma sessão de lembranças. E aí sou tomada por uma enxurrada de recordações de um, dois e até três anos, atrás.  Lembranças de eu e você.  Parecia que o nosso amor de tantas rugas ali sorria sem curvas.  Um misto de saudades, tristeza do tempo que não volta e surpresa, sinto uma enorme onda de gratidão. Me sinto plenamente grata pelas visitas do tempo, os encontros e desencontros e até mesmo pelas partidas.  Sou tomada por um sentimento difícil de acontecer. A paz.  Sinto uma quietude, uma sensação de tudo estar no lugar e que as coisas que ainda estão bagunçadas, irão encontrar seu destino mais cedo ou mais tarde.

  Ao mesmo tempo me sinto incomodada de que até mesmo uma rede social nos faz revisitar o passado há todo momento.  Será que só eu fico presa no passado?   Será que só eu fico pensando com quem estará aquele amor perdido?  Que roo as unhas de ciúmes?  Que me perco em paranoias?  Será que só eu me sinto culpada por pensar absurdos como se pensamentos pudessem se transformar em realidade como em um passe de mágica? O mais insano de tudo isso é que tenho um grande desejo de embarcar em  uma máquina do tempo e consertar tudo. Reatar com aquele menino que amo. Pedir desculpas para aquela amiga da qual agi com enorme idiotice.  Ter parado na hora que o impulso tomou conta naquela discussão boba. Tantos eventos que se pudesse voltaria atrás. Será que se pudesse retornar, as coisas teriam sido diferentes?

     Na hora que deito a cabeça, e a minha mente insiste em passar um filme. Lá as estrelas, o elenco são os meus eventos diários. Ao invés de embarcar em sonhos mágicos, sou tomada por uma avalanche de pensamentos. As coisas que disse. As coisas que deveria ter dito. Os compromissos que deixei de cumprir. Os exercícios físicos que deveria ter feito,  ao invés disso devorei uma torta  inteira de chocolate no jantar.  Os impulsos que deveria ter ponderado. De repente, acordo. Exausta. Como se tivesse passado a noite em claro. Será que só eu que fico remoendo a rotina antes de dormir? Será?

Parece que fico repetindo os mesmos erros todos os dias sem parar como uma centrífuga.  Todos os dias prometo que vou comer menos.  Reduzir o açúcar e os carboidratos. Praticar exercícios pelos menos duas vezes por semana. Vou começar meditar para afastar a ansiedade. Vou ponderar as palavras antes de falar. Vou tentar chegar no horário ao invés de chegar encima da hora. Esbaforida. Será que somos todos os nossos desejos de ano novo, dia após dia tentando ser cumprido? Será que somos sempre vencidos pelas nossas listas de desejos? Será que seremos sempre assim insaciáveis, inquietos e insatisfeitos? Nossa, cansei, muita cobrança. Acho que descobri a origem da dor de cabeça e dos outros tantos sintomas que fazem que sejamos a sociedade a beira de um ataque de nervos.


  Somos escravos da nossa rotina chicoteados pela nossa consciência.  Se houver alguém assim como eu neste vasto mundão, por favor, me chame. Vamos tomar um café, compartilhar nossas paranoias e quem sabe aliviar os pesos que carregamos e o os monstros que alimentamos.

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