Diários de Bluu: A Culpa é Sua
De
repente você está em mais uma sexta-feira chorando uma caixa de lenços. Tendo
como companhia o Globo Repórter, onde
a vida sexual das morsas parece mais excitante do que a sua. Ao lado da
poltrona a lasanha congelada, uma garrafa de vinho pela metade e o pote de
brigadeiro já devorado. Você não percebe, mas há algum tempo atrás alguém já
partiu seu coração em caquinhos da mesma forma. O seu lugar cativo na fossa já
estava ali há algum tempo esperando pelo seu retorno. Chegou a hora de nos
culpar por termos o “dedo podre”, o que tínhamos na cabeça quando instalamos
aquele aplicativo, o sim para o convite
do cinema e o porque beijar no primeiro encontro. Qual é o nosso problema
mental de nos entregarmos da mesma forma? A gente acredita nas mesmas
declarações. Se apega nas mesmas
atitudes. O que muda são as pessoas pelas quais nos apaixonamos. O que
permanece somos nós mesmos. Está na hora de nos colocarmos como protagonistas
da história. Temos total responsabilidade pelo coração partido. Pelas finais de semana solitários. Pela cama gelada
e assim por diante.
Quando
nos damos conta escolhemos os mesmos caras. Comportamentos parecidos. Estilos
de vida semelhante. Até mesmo roupa,
corte de cabelo e quando vemos até o signo é o mesmo. O pior é quando nos damos conta que, além
disso, eles têm os mesmos defeitos, as mesmas manias e as mesmas carências. No
meu caso escolho os caras que me colocam para baixo, os que reforçam a minha
total falta de autoestima.
Masoquismo? Sofrer é o meu esporte
preferido? No meu caso a cena é a seguinte: tudo começa de forma perfeita. O
cara é um príncipe no começo, usa todas as ferramentas para me seduzir. De uma
hora para a outra como em um truque de mágica que deu errado. Acordo ao lado de
um sapo. E aí culpamos o destino. Quando
na realidade nos aproximamos das mesmas pessoas. Somos conectadas pelas
semelhanças, coisas que nos lembram os nossos relacionamentos anteriores e nos
fazem sentir em casa. Mesmo que seja
pelas coisas negativas. Somos péssimos
em decifrar sinais. No meu caso
se o cara me trata bem no começo é um pulo para me apaixonar. Outro passo para
cair de cabeça. Logo sei que a descida será rápida e cruel. Não demora muito
para eles se revelaram e serem uma cópia quase exata dos meus ex-namorados. De nada adianta jogar as sete pragas do Egito
no mundo quando na realidade a culpa é toda nossa. As respostas que a gente
procura por nos relacionar com as pessoas erradas estão dentro da gente. As mágoas, ressentimentos, frustrações se não
estiverem acomodadas dentro da gente. Retornam.
Com isso, temos a tendência de
querer equilibrar as coisas e resolver a toque de caixa. Sem levar em conta que
enquanto estivermos mal resolvidos tentaremos consertar as coisas passadas em
novos relacionamentos.
Buscamos
de todas as formas consertar os nossos erros.
Se brigávamos muitos em outros relacionamentos tentaremos ser mais
calmos. Se os ciúmes atrapalhou, vamos tentar
agir com mais cautela. Não há
problema algum em querer ser melhor. O errado é tentar consertar os erros do
passado nos relacionamentos do presente. Você está começando uma nova história.
A pessoa é nova. Os problemas também
serão novos. Isso se você tiver de fato
conseguido escolher alguém fora do seu padrão que possa até ter algumas
semelhanças com os antigos, mas fuja das mesmas coisas que deram errado. Senão o
ego ferido entre em cena. Abre espaço
para nossas carências. Fazendo que sejamos conduzidos a cometer as mesmas
atrapalhações. É o que chamo dos nosso buracos negros. Achamos que podemos
conseguir mudar as coisas do passado aqui no presente. Não entendemos que o que
fizemos lá atrás já passou. Vou dar um exemplo. Me encantei por mm menino tatuado, adorador
de motos e com o coração indisponível para o amor. Por teimosia e por ter já perdido alguns
caras por serem comprometidos. Investi todas as minhas fichas nele. Mesmo que
no fundo soubesse que meu coração iria ficar em frangalhos. Meu orgulho gritava
dentro de mim que dessa vez iria conseguir.
Devemos
prestar atenção se de fato o nosso presente não está sendo bagunçado pelo nosso
passado. O que estamos tentando provar. Quando nos damos conta que estamos caindo nos
mesmos papos, nas mesmas ciladas e o coração dá um jeito de dizer que algo está
errado. Nós ignoramos os sinais. Negamos
os nossos instintos e não damos ouvidos a nossa voz interior. Esta pode estar
bradando internamente para sair fora, deixar o jogo antes que tudo pegue
fogo. Quando na realidade o nosso
instinto de proteção está em alerta para nos proteger. Acabamos nos deixando de
lado mais uma vez. Nos despimos do nosso
amor próprio. Em tantas outras vezes achamos que podemos salvar aquela relação
fadada ao fracasso. Podemos ajudar o outro a ser melhor. O clássico erro de achar que podemos mudar o
outro. A pessoa só muda por ela própria. De nada adianta o nosso esforço
titânico se o outro está estacionado na zona de conforto. O que estamos construindo? Nada. apenas um circulo vicioso de relações
azedas. Nos levam apenas a mesma fossa, aos mesmos buracos negros e o pior reativam cicatrizes. Muitas vezes minguam
nossas chances e esperanças de vivenciar algo totalmente novo e incrível.
Seria
tudo bem mais fácil vivenciar as dores no momento exato que elas acontecem.
Chorar por um amor perdido. Refletir sobre o fim de uma relação. Ao invés de
embarcar em uma novo relação tendo na mala de mão um coração partido, ressentimentos
e frustrações. Ninguém cura nada machucando o outro e nem se machucando. É
preciso primeiro deixar cicatrizar. Deixar o tempo agir. Investir em
autoconhecimento. Reconhecer erros, padrões que nos fazem cometer as mesmas
burrices. Só depois começar a olhar para os lados. Só poderemos amar de novo se estivermos
desacompanhados de nossos rancores. Se
não quisermos viver de reprises, nem estrelar
dramas mexicanos é preciso estar inteiro. Encontrar sentido no que nos fez sofrer é
sabedoria. Embarcar em algo novo vestido de passado é hipocrisia. Precisamos
ser inteiros a fim de não nos contentarmos em sermos a metade de ninguém. Para
amar é preciso primeiro amar a si
mesmo. Para iniciar um novo relacionamento é necessário interpretar sinais,
mudar atitudes e assumir culpas.
Enquanto
nos fizermos de vitimas. Culparmos o universo, o horoscopo, o clima e os outros
pelos nossos dramas. Nada mudará. É preciso assumir o leme. Aprender com a dor. Dar sentido ao passado. A fim de embarcar em
algo totalmente novo, imune a migalhas e forte o suficiente para saber partir
ou ficar.
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