Diários de Bluu: A Arte de Ser Mulher

   

   Mesmo sendo Sou Frida, jamais me Kahlo.  Porta voz das minhas cicatrizes. Dona da minha história e também do meu nariz.  Uma mulher repleta de curvas, celulites, deslizes e sonhos.

  Posso ser um pouco meretriz. Em outras faço por merecer. Finjo ser imperatriz do reinado dos meus problemas. Pago pelas minhas contas. Assumo os estragos. Reparos às arestas. A cada tombo me refaço.  A cada coração partido um novo remendo.  Sou os amores que amei. Os lugares por onde pisei. As viagens que fiz.  Os encontros e desencontros. Os laços que formam nós.    Sou também inteira.  Não mais a metade da laranja de ninguém. Sou dona de mim mesma. Sou o que quiser ser. Sou forte.  Sensível quando preciso Sou uma junção de paradoxos.   Linhas que não se cruzam. Sentimentos sem nome. Posso ser tudo. Também posso renascer a qualquer instante.  Me torno mais forte a cada embate.

  Sou os assédios sofridos desmedidos na rua. O machismo barato que impera nos homens tolos.  Cantadas que reduzem as mulheres a quase nada.  Sou a voz feminina que ainda grita. Ecoa pelo poder das mulheres que me precedem. Um pouco Anita Garibaldi, Chica da Silva, Clarice Lispector, Cassia Eller e umas nuances de Elis.  Para entrar mais nesta dança sem esquecer a Carmen Miranda.  A ousadia da Rita Lee.  A coragem de Nise da Silveira. A arte da Tarsila. A sonoridade da Chiquinha Gonzaga. Mulheres brasileiras. Orgulho. Delas e de tantas outras. Voz. Graça.  Coragem. Entusiasmo para que nós brasileiras pudéssemos transitar ainda que de forma “ livre” e nada “democrática”  pelo solo nacional.

  Sou também as mulheres sem nome. As que sofrem caladas. As que são mortas de forma covarde e se tornam estatística. As que lutam sem precisar de holofote. As que deveriam ter entrado para história. Admiro cada alma feminina deste país simplesmente por terem a coragem de tentar existir de forma democrática em um Brasil tão desigual.

  Sou também as que fizeram história pelos quatro cantos deste planeta. Pintoras. Poetas.  Escritoras.  Artistas.  Mães. Guerrilheiras. Jornalistas. Politicas Seres humanos invejáveis.  Não apenas por serem mulheres. Por mais oprimidas. Assediadas  Por   terem que escutar besteiras de  homens que acham que somos apenas os índices que movem a economia.  Como se dona de casa e mãe não fosse profissão. O nosso lugar é aonde quisermos. Somos livres demais para respeitar os limites dos homens.  Estamos em todos os lugares.  Podemos ir aonde quisermos. De minissaia. De esmalte rosa choque. De salto quinze. De calça de sarja.   De pé descalço. Com decote farto. De cabelos raspados. De cara limpa. De  maquiagem impecável.  Nada nos define.  Não é a cor da nossa blusa. O tamanho dos nossos seios ou das nossas nádegas. É o tamanho da  garra de recomeçar a cada abalo. A cada assédio sofrido. A cada cena de machismo. A cada agressão física ou psicológica.  A cada violência sofrida seja ela qual for.  Nós nos refazemos. Renascemos.

  Não existe revolução definitiva.  As revoluções serão sempre infinitas. Mas é preciso revolucionar de forma unida. Sejam os motivos pelos quais nós mulheres proclamamos a revolução. Juntas seremos mais fortes a fim de que talvez um dia nós, famosas ou  desconhecidas nos tornemos mais do que uma estatística.

Enquanto uma mulher em qualquer canto do mundo morre de forma brutal e anônima. Ela  importa. Poderia ser eu.  Você. A sua mãe.  Sua melhor amiga. Entenda que uma mulher ferida corresponde as suas próprias cicatrizes.   Quer revolucionar? Comece a se importar.

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