Crônica: Era Sábado


Era Sábado



Era sábado, hora do almoço. O centro aos meus pés. Cidade repleta de multidões. Eu ali No vazio de estar sozinha mesmo acompanhada. Andando de mãos dadas com a minha solidão de estimação.

  Mente hiperativa. Ansiedade que bate no teto . A fuga inevitável frente ao encontro.  A vida é real e de viés.  Escolhas e consequências. Viver é equilibrar  o suportar e o existir. Cruzo os dedos para esbarrar em um sorriso que não esteja invertido. Risada agridoce. Abraço morada.  A paz de um olhar avassalador.

Pela janela surge a ideia.  Trilha sonora.  Bolero. Um tango no meio da  esquina nada democrática.  Me senti tão sozinha. Refém do meu passado. Emaranhada pelos meus próprios nós.  Era sábado.  Almoço ao acaso.  Sushi como cardápio.  A complicação de comer de palitinhos. O nervosismo de conhecer quem parecia já conhecer.  Os estranhos se entranhando. Numa dança esquisita que se chama atração.

 Intimidade doida que surge sem dar aviso. Vontade de largar o mundo.  Deixar tudo em reticências. Era sábado e eu pensando em fugir para qualquer lugar.  Onde estivesse mais perto de você e mais longe de mim.  Era amor antes de dizer olá.   Era sábado. Era o amor antes de ser amor. 

O jardim do poeta. Testemunha do beijo ansioso.  As mãos desajeitadas ao encontro de um espaço. Alivio para a inquietação.  Porto  a beira do abismo. A Igreja das Dores.  Banheira de vitórias régias. O poeta a espreita dos amantes.  Nossos silêncios fizeram um barulho imenso.  Encontro dos nossos vazios.  Os mesmos traumas. Os mesmos caminhos. Vontade de transcender.  Um do outro.  Um ao outro. Sentir o gosto. Experimentar sem desgosto.  Saber que Agosto está chegando.  Mas agora é sábado. Tudo vai ficar bem, de algum jeito ou de outro.

Era amor antes de dizer olá.  Era sábado. Era amor antes de ser amor.  Éramos do mundo. Andávamos sós.  Até que em um sábado meio ao acaso. Fez-se o laço.  Cachecol para alma. Remédio para a solidão. Vem curar o meu vazio. Vem cicatrizar os meus cortes. Deixa  despir os teus medos.  Esbarra a sua alma na minha. 

Deixa que é sábado. Deixa o mundo lá fora. A trilha sonora continua. Bolero. Nuances de forró. Um pouco de ópera. Dentro de mim uma cidade se acendeu. O seu sorriso agora não mais invertido encontrou o meu.

 Era sábado. Era amor antes de dizer olá. Era sábado. Era amor antes de ser amor.  Somos do mundo.  Transpirávamos solidão. Agora se fez primavera  nas suas mãos.

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